20070818

poema de um coração atormentado

da mesma forma que a neblina
produz singulares imagens aos diversos tipos de iluminação a noite
ao mesmo tempo que impede que se veja um palmo a frente,
o atinge o amor e a loucura
através das irresistíveis visões febris e doentias
de um charmoso sorriso enigmático.

tão real quanto o efeito do álcool em seu sangue,
sobressaindo a todo cheiro de fumaça e o barulho ao redor,
é a suave fragrância daquele perfume
junto daqueles castanhos cachos agora intangíveis.

lentamente, como os cigarros que vão se acabando,
vão sumindo todos seus sentimentos
e lembranças de uma outra vida antes dela...
no quarto ao lado, jô soares parece contar uma de suas piadas
e, de repente, por seus ossos corre um calafrio
ao escutar indubitavelmente o som de um riso já conhecido.

tão real é a beleza daquele sorriso ambíguo
conseguido através de tratos com bestas infernais
que conquistou todos os deuses e seus séquitos
fazendo-os chorarem juntos no vale da tristeza
em algum lugar perto de lugar nenhum.

um dia, caminhando pelas ruas estreitas,
por entre as construções antigas e pessoas desconhecidas,
ele encontra aquele amigo que não via há tempos dizendo:
"cara, é impressionante como uma mulher pode acabar com um homem"
hoje ele sorri da brincadeira com a certeza
que aquilo não é mais que uma pura verdade.

tão real quanto a cadeira vazia agora ao seu lado
são as marcas na alma debilitada
que datam de uma tarde sombria de outono
em que poderia ter simplesmente virado o rosto e seguido em frente
fugindo daqueles olhares ávidos por um coração atormentado
que hoje, enfim, conseguem o que queriam.

0 comentários: