20070915

a flor

eu tinha uma flor.
a chamavam de inocência,
enquanto, rindo de tal palavra,
eu, de cabra-cega, brincava na minha rua.
foi por aí que me arrancaram a primeira pétala.
a primeira - a qual não hei de esquecer -
que como um tapa severo no meio da cara, caiu.
depois veio a segunda.
não tardaram a cair a terceira e a quarta,
foi quando tomei consciência de minha flor,
ficando abismado com conjeturas do porvir.
tarde demais.
quando percebi, haviam caído todas.
todas.
uma a uma,
haviam
lentamente
me deixado,
sobrando apenas um pequeno caule seco,
cheio de espinhos.
desde então, não consigo mais caminhar por relvas verdes,
nelas apenas vejo vidros e ferros retorcidos.
desde então, não consigo mais nadar em águas límpidas,
pois sei (sei!) que se tornarão sujas.
desde então, só consigo olhar para outras flores,
receoso do futuro que lhes espera.
eu tinha uma flor...

1 comentários:

Jackson disse...
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