20080205

águas do capibaribe

música e letra por jera

estão prensando jornais de ontem,
curiosamente, a data é a de hoje.
editores trabalham exaustivamente
nos mesmos textos das pessoas da cidade.
palavras diferentes pintam claramente
as mesmas imagens de anos atrás,
enquanto luzes de um novo dia pintam
às aguas do capibaribe.

no chão uma rua suja e desalinhada
ao redor, pessoas conversam alto,
dentro de Rafael lembranças forçam seu crânio
imagens de uma garota de Olinda.
ele espera acabar com o martírio
num passeio a tarde num catamarã,
nas águas do capibaribe.

Maria anda perdida nas ruas,
chora desconsoladamente.
dizem que o assassino não perdoara
seu pequeno e único filho
em troca de um relógio falsificado.
hoje sua trsite sina parece procurar,
ao gritar o nome do garoto,
repouso e um ponto final
nas àguas do capibaribe.

"que idiota inventara o ontem e o hoje?"
perguntava-se Felipe ao iniciar
suas duras horas de trabalho diário,
num CDU/Várzea, como cobrador.
pra ele a rotina, padre malquisto,
casara o presente e o passado,
dando-lhe uma prisão
de onde poderia imaginar um feliz amanhã
nas águas do capibaribe.

Adriana carrega seu mundo,
um conto de fadas, nas suas costas.
assim infelizes loucos e drogados
acabam por assumir ares de nobreza e plebe.
com um olhar sonhador procura
em algum canto seu princípe do mangue
é então que alguém diz; "tola,
afundarás mortalmente
nas águas do capibaribe!"

indiferente a movimentação,
na sua pequena budega num mercado,
seu joão lê toda manhã seu jornal
recheado com antigas novidades.
e lá esquecido pela família, amigos e o tempo,
o velho afoga na pinga as lágrimas,
esperando o dia que enfim irá afogá-las
nas águas do capibaribe.

e assim os anos se passam no Recife,
dezembros, carnavais e procissões;
milhares tentam em vão não cantar
a mesma velha canção
e então o poeta, tido como louco,
cansado da distância e das pontes
retorna a chorar
com elegias e odes
às aguas do capibaribe.

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